domingo, 13 de janeiro de 2008

13º Capítulo

Foi um mês de sofrimento absoluto, até que os sintomas da abstinência se atenuassem. Durante esse período não saí do quarto. A única pessoa que realmente me ajudou foi minha mãe. Em todos os momentos, apoiava-me, alimentava-me e vigiava para que tudo estivesse o mais confortável possível.

Era dezembro, quando resolvi enfrentar os estragos que o vício tinha causado em minha vida.

Por falta de pagamento de aluguel, o proprietário moveu uma ação de despejo. Não pagava o aluguel há cinco meses. E não tinha como pagar todos os meses de uma só vez. Não tinha emprego.

Devido às faltas na Faculdade, fui obrigado a trancar a matrícula para que não ficasse reprovado em todas as matérias. Assinei uma procuração para minha mãe, que tratou de tudo.

Maurício havia sumido, não sabia nenhuma notícia sua.

Resumindo, eu estava vivo e havia retornado ao lar da forma como nunca sonhei.

Precisava escolher um ponto de partida. Escolhi Maurício. Resolvi procurá-lo no curso em que dava aula.

- Maurício! - Gritei quando saiu do prédio.

- Jê! Que bom te ver aqui! Como é que você tá?

- To melhor... Não dá pra perceber?

- Claro, que sim! É que você tava tão mal... Como é que aconteceu isso?

- Minha mãe passou no meu apartamento e me levou pra casa dela.

- Ah! Então ela foi.

- Você sabia que ela iria?

- Eu conversei com ela sobre o teu estado.

- Ah, foi?!

- Eu não sabia mais como te ajudar... Resolvi pedir ajuda a ela.

- É... Pelo jeito funcionou.

- É verdade. Mas não vamos mais falar nisso! Vamos fazer um lanche e conversar um pouco?

- Vamos.

Fomos até uma lanchonete, onde muitas vezes nos divertimos.

Sentia que Maurício, apesar de ter ficado feliz em me ver, estava distante. Não era o mesmo Maurício de antes.

Procuramos a mesa de sempre.

- Será que a gente pode recomeçar do ponto que paramos? - Perguntei assim que sentamos.

- Vamos pegar o lanche primeiro? Eu to morrendo de fome! - Realmente alguma coisa havia mudado. Depois de algum tempo ele volta com a bandeja. - Peguei o de sempre.

- Tudo bem... Que tal você me responder agora?

- Jê... Eu preciso conversar um assunto meio chato contigo...

- Fala... - Pressentia o tipo de assunto.

- Nesse período em que ficamos distantes, conheci uma pessoa... Foi por acaso...

- Você tá com outro?!

- É... - Sua expressão se modificou. Eu não consegui reagir. - Não quero que isso prejudique sua recuperação... Olha... Nós podemos continuar amigos... Como sempre fomos, acima de tudo...

- Eu não quero ser seu amigo, Maurício... Eu te amo... Onde foi que você o conheceu?

- Ele é cantor... Estava se apresentando num bar que resolvi entrar, quando eu tava deprimido por sua causa.

- Eu sou o culpado?!

- Não foi isso que eu quis dizer...

- Não é possível que você tenha me esquecido em tão pouco tempo, Maurício! Vamos recomeçar! Eu prometo que vai ser diferente!

- Você tá dificultando as coisas... - Ficamos algum tempo calados, sem olhar um para o outro.

- É a sua palavra final?

- Não faz assim, Jê...

- Você quer que eu faça o que?! Dê um presente pra vocês dois?! Quem sabe uma festa pra comemorar?! - Levantei-me e fui embora sem dizer mais nada.

Saí sentindo-me péssimo. Se tivesse algum comprimido, com certeza teria voltado ao vício. Decidi ir até a farmácia e falar com o Sr. Romualdo, para me arranjar um vidro. Apesar de ter me livrado da pior fase da abstinência, ainda me sentia muito mal.

Peguei um ônibus em direção à farmácia, mas no caminho acabei desistindo da idéia. Havia sofrido demais para voltar ao vício na primeira dificuldade.

Saltei do ônibus e fui até o prédio onde morei e fiquei olhando-o, sem coragem de subir. Chorei por muito tempo, sentado na calçada, alheio às pessoas que passavam...

Depois de muito tempo andando a esmo, resolvi voltar para o apartamento de meus pais, minha nova residência.

Eles estavam na sala, quando cheguei.

- Onde você foi, Jeremias? - Minha mãe perguntou.

- Fui conversar com Maurício.

- Você tá bem?

- Tá tudo bem... Só tou me sentindo meio tonto. Eu vou pro meu quarto. - Meu pai olhava-me o tempo todo sem dizer nada. Acho que se sentia um tanto culpado por tudo que aconteceu comigo. Não conseguia manifestar carinho, mas não se opunha a nada que minha mãe fazia para me ajudar.

Fui para meu quarto e chorei quase a noite toda. Sentia-me a última das pessoas... Tinha a impressão que sempre pagava um preço alto... Voltei para junto de meus pais, mas perdi Maurício... Sempre faltava algo importante...

No dia seguinte acordei com uma meta em minha mente. Talvez o que tivesse feito Maurício me deixar, foi o fato de eu ter destruído minha vida. Quem gostaria de ficar ao lado de alguém falido? Decidi que reconstruiria cada aspecto e com isso tentaria trazer Maurício de voltar para meu lado.

Foi uma fase muito difícil, pois me sentia mal física e psicologicamente. A droga arruína todas as suas capacidades. Talvez por isso seja tão difícil voltar à vida normal. Talvez por isso tantos voltem ao vício, tantos se matem...

Com a ajuda de minha mãe, passei a procurar emprego todos os dias. Mas um obstáculo inesperado passou a impedir que eu refizesse minha vida profissional. Em todos os lugares em que fazia entrevista, sempre pediam referências na firma anterior, no caso, a Infortime. Quando isso acontecia o Setor de Pessoal relatava tudo que havia acontecido. Mesmo que eu fosse perfeito para o emprego, na última hora, perdia a chance.

O Natal e o Ano novo foram péssimos. Por ironia do destino, a coisa que eu mais queria era passar essas datas com a minha família, mas em circunstâncias totalmente diferentes.

Cada dia que passava sentia mais falta de Maurício, que se misturava a falta que sentia dos tranqüilizantes, do álcool, do emprego, de um ideal...

Fevereiro chegou e nenhum emprego apareceu. Queria ter algo para poder vender, pois não teria coragem de pedir nada aos meus pais. Bastava o apoio que minha mãe me dava e meu pai, também, ao seu jeito.

Maurício não havia me procurado. Não tinha ânimo para retornar à faculdade em março. Minha vida estava um lixo... Não tinha coragem de procurar Luciana ou Adriana... Sentia-me só... A sensação de vazio estava de volta... Mais poderosa que nunca...

A audiência na ação de despejo foi marcada para o dia doze de fevereiro. Entramos em acordo e ficou estabelecido que eu desocuparia o imóvel em quinze dias.

Pela primeira vez depois de tudo o que aconteceu, resolvi voltar ao meu apartamento. Ao entrar fiquei chocado com a cena. Tudo estava tão imundo que tinha bicho andando pelo chão. Tentei limpar um pouco, mas percebi que iria dar muito trabalho. Paguei uma faxineira e junto com ela limpamos todo o apartamento.

Foi bom rever minhas coisas. Cada móvel tinha uma história. Tudo foi comprado com muito sacrifício e a impressão que tinha era que não me pertenciam mais. E não pertenciam mesmo. Não conseguiria viver naquele lugar que me lembrava tantas coisas ruins, como as drogas e tantas coisas boas, como meu relacionamento com Maurício.

Vendi alguns móveis e eletrodomésticos. O resto levei para o apartamento dos meus pais. Minha vida estava vazia demais, sem sentido demais, para perder a minha única conquista, a minha família.

Voltei definitivamente a morar com meus pais.

Final de fevereiro. Mais um carnaval chegou.

Por mais que eu tentasse não conseguia reconstruir a minha vida e esse fato cada vez mais me deprimia.

A saudade de Maurício me consumia. Não conseguia entender como ele havia me esquecido tão rapidamente. Depois de muito pensar, lembrei-me da sua característica mais marcante, a capacidade de adaptação as novas situações. Comecei a sentir um verdadeiro desprezo pela minha pessoa.

O carnaval seria uma boa oportunidade para esquecer todos os meus problemas, todas as minhas mágoas, todas as minhas frustrações.

Não resisti a tantas pressões internas e externas...

Cedi à tentação do álcool... Ele sempre me libertou dos meus problemas... Quem sabe, Jade soubesse enfrentar melhor todas essas situações?

Embriaguei-me e passei o carnaval mais promíscuo de toda a minha vida. Transei em público, a três, a cinco, com mulher, com velho, com menores... Jade retornou mais autodestrutivo que nunca...

Na terça-feira de carnaval, a Cinelândia começava a ficar vazia, quando resolvi parar em uma barraca que vendia bebidas, para acabar de me embriagar. Ao sentar-me em um banquinho com a minha garrafa de cerveja, um rapaz se aproximou.

- Que pena que acabou o carnaval, não é? - Olhei para ele e o achei interessante. Um bom motivo para me divertir.

- É verdade. Quer um copo de cerveja?

- Quero... Você tá sozinho? - Comecei a rir - Eu contei alguma piada?

- Me desculpa! É que essa pergunta é tão velha. Vamos pular essa parte, meu nome é Jade e o seu?

- Lício. Você acha que eu tou dando em cima de você?

- E não tá?

- Não. Só quero bater papo com alguém.

- Tudo bem! Me desculpa mais uma vez... Gosta de carnaval?

- Mais ou menos... O movimento fica fraco... Tem muita gente dando fácil.

- Você tá falando de que?

- De sexo. Ou existe assunto melhor?

- É verdade, não existe... Mas por que você disse que o movimento fica fraco?

- Porque não aparece ninguém...

- Será que você pode ser mais claro?

- Eu sou um daqueles caras que ficam parados na Via Ápia. Conhece a Via Ápia?

- Conheço... Você é michê?

- Sou. Tem algo contra?

- Não. Tinha loucura pra ser um! Deve ser o maior barato! - Jeremias jamais falaria uma frase dessas, mas Jade...

- Tá falando sério?

- To.

- Quer experimentar?

- Quero.

- Taí! Gostei de você! Quer tentar hoje?

- E os outros caras vão me deixar ficar parado lá?

- A gente tem um ponto que é reservado pros principiante. Só pessoal escolhido por nós. Quer tentar?

- Vamos lá.

A Via Ápia fica próxima a Praça XV, atrás do prédio do Tribunal de Justiça. Os rapazes ficam parados. E os homens, normalmente em carros, param e perguntam o preço. Prostituição masculina. Geralmente são rapazes com aparência masculina que se vendem para outros homens e, às vezes, mulheres.

Fiquei encantado com a possibilidade, quer dizer, Jade ficou.

Lício me levou para uma rua um pouco distante do local favorito dos michês.

- Não passa daqui. Ali é a área quente... Não passa pra lá! Se não o pessoal te pega. Eu vou falar pra eles que você é meu primo.

- Vem cá! A troco de que você tá fazendo isso por mim?

- O que você conseguir eu quero a metade. Topa? - Pensei um pouco.

- Topo.

Fiquei parado naquela rua deserta por muito tempo andando de um lado para o outro, até que apareceu um Monza. Andei até a beira da calçada e o carro parou.

- Quer dar uma volta? - Um senhor, que aparentava uns cinqüenta anos, perguntou assim que o vidro do carro abaixou.

- Quero... Quanto você paga? - Não sabia o que se falava numa situação dessas.

- Você é novo aqui, né?

- Por quê?

- Ninguém pergunta quanto à gente vai pagar. - Fiquei totalmente sem graça.

- É verdade... Eu sou novo no pedaço... Mas você vai querer sair ou não?!

- Vou! Carne fresca é comigo mesmo!

Saímos e ele estacionou o carro próximo ao Aterro do Flamengo. Só queria sexo oral. Foi o que fiz e recebi um pagamento razoável. Ao voltarmos, deixou-me no mesmo lugar. Lício correu até meu encontro e perguntou pela sua parte. Dividi honestamente. O que me atraía era o ato e não o dinheiro. Fui embora satisfeito, mas com a intenção de voltar.

Ao entrar no apartamento, percebi que minha mãe dormia na sala, esperando que eu chegasse.

- Jeremias é você?

- Sou... O que a senhora tá fazendo aí?

- Tava te esperando, Jeremias, você sumiu... Eu quase não consigo te ver em casa.

- Foi só por causa do carnaval... Amanhã tudo volta ao normal... - A vida normal é que me assustava. Era a vida que não conseguia levar.

Depois do carnaval um enorme desânimo abateu-se sobre mim. Parei de procurar emprego e esperava ansiosamente que a sexta-feira chegasse para eu poder voltar a Via Ápia. Havia combinado com Lício que só iria nos finais de semana.

O dinheiro que arrecadava na prostituição durante a sexta, o sábado e o domingo dava para me manter sem problemas durante o resto da semana, mesmo dividindo com Lício.

Divertia-me e ainda ganhava dinheiro com aquilo. Meu lado Jade me dominava totalmente...

Assim fui levando a vida, ou melhor, suportando os dias.

Quando a sexta-feira chegava todas as minhas angustias acabavam. Bastavam algumas doses e Jade tomava conta da situação.

Pela Via Ápia passavam homens de todos os tipos: tímidos, mal-humorados, solitários, depressivos, maníacos, sadomasoquistas. Mas os tipos que mais temíamos eram os psicopatas e os policiais. Os psicopatas por serem perigosos; cheguei a conhecer um rapaz que foi encontrado morto, todo cortado, depois de sair com um deles. Alguns policiais paravam a viatura e obrigavam um de nós a entrar e satisfazer todas as suas vontades, geralmente eram brutos e acabavam nos machucando.

Durante os dois meses que freqüentei aquele local, o sujeito mais exótico que peguei foi um jovem que me fazia vestir uniforme de gari, acender uma vela e pingar a cera quente por todo o seu corpo, isso o excitava ao ponto de chegar ao orgasmo.

Fiz amizade com os michês que eram donos da área que rendia mais, mas eles não deixavam de forma nenhuma que eu passasse da rua deserta para onde faziam ponto. Não me importava com aquilo, o que queria era esquecer que eu existia. O que me satisfazia era saber que a qualquer momento eu podia contrair AIDS ou um pegar um psicopata que acabasse com a história de Jeremias.

Um sábado andava de um lado para outro no meu ponto, que já dividia com Belo, rapaz jovem e vazio de sentimentos, quando vejo alguém que jamais pensei encontrar naquele lugar. Ele caminhava em minha direção, quando percebi sua presença.

- Jê! Que que você tá fazendo aqui?! - Senti meu corpo gelar de vergonha.

- Oi, Maurício... Quanto tempo, né?

- O que você tá fazendo aqui?!

- O que todos fazem. Você não tá vendo? - Jade dominou a situação.

- Não acredito nisso, Jeremias! Você não precisa disso! Você sabe que não precisa! Por quê?! - Percebi a presença de um rapaz que se aproximava.

- Porque eu gosto daqui! Aqui eu me sinto importante pra alguém! Aqui eu me divirto! Aqui eu me esqueço da merda que é a minha vida!

- Você abandonou o vício por uma coisa pior. - Ao vê-lo na minha frente, a saudade acumulada pareceu dominar minha razão

- Eu não te esqueci, Maurício! Volta pra mim! Eu largo tudo isso! Juro!

- Você tá doente, Jeremias! Muito doente! E o que você sente por mim não é amor é uma fixação doentia! - O rapaz colocou a mão no ombro de Maurício, como quem diz: - "Ele é meu." e os dois me fitaram com olhar de pena. Senti ódio deles e de mim mesmo. Como Maurício poderia ser tão cruel.

- O que vocês dois tão olhando?! Eu tou muito bem! Podem ir embora pra vidinha medíocre de vocês! Vai, porra!!! Vaaai!!!

Os dois assustados com a minha reação afastaram-se sem dizer mais nada. Chorei sentado na calçada, durante muito tempo. Belo assistiu a cena sem se manifestar. Assim que chegou um freguês meu, ele pegou sem dar explicação. Tive ódio do mundo...

Como sempre nesses momentos, Jade tomava a frente da situação. Resolvi passar para a área mais movimentada, sem autorização dos outros michês. Três deles se aproximaram.

- A gente não te avisou pra não vim pra cá?! - Um deles falou. Lício olhava tudo imparcial.

- To cheio de ficar naquela rua deserta! Não passa ninguém lá!

- A gente vai te dar um calmante! Você vai ficar numa boa!

Deram-me uma surra e me deixaram deitado no chão. Lício se afastou junto com os outros. Não me lembro de ter me sentido mais só em toda a minha vida...

Depois de algum tempo consegui me levantar e ir em direção à Praça XV. Não conseguiria arranjar ninguém, daquele jeito.

Havia um rapaz chamado Nando, que sempre oferecia drogas para o pessoal daquela área. Eu nunca aceitei, por ter decidido não usar mais nada que não fosse o álcool. Queria uma autodestruição menos dolorosa, se é que isso existe. A droga me fazia sofrer muito.

Vendo-me naquele estado, Nando aproveitou.

- Eu tenho uma parada boa aqui! - Olhei para ele e não resisti.

- Tem algum comprimido?

- Tenho um lance que tu vai gostar! - Pegou um saquinho com alguns comprimidos e me mostrou discretamente. - É quente! Não tem arrependimento.

Paguei, ele me deu o saquinho e sumiu. Passei numa barraca, comprei uma lata de cerveja e tomei três daqueles. Após alguns minutos comecei a me sentir mal, minha cabeça rodava, meus membros ficaram pesados e comecei a ficar enjoado. Aquilo não tinha nada bom. De repente minha visão escureceu e não lembro mais nada...

Acordei em uma enfermaria de hospital, com uma agulha espetada em meu braço. Sentia-me muito mal, além de ter muitas dores pelo corpo, devido à surra. Mal conseguia abrir meus olhos. Meu rosto estava todo inchado.

Ao me ver acordar, uma moça vestida de branco aproximou-se.

- E aí rapaz? Como vamos?

- Que lugar é esse? Como é que eu vim parar aqui?

- Acho que dá pra perceber que é um hospital... Você foi encontrado desmaiado na calçada. Uma pessoa te trouxe até aqui de carro.

- O que aconteceu?

- Intoxicação por Clorpromazina.

- Que isso?

- Você deve saber o que foi que andou tomando? - Mediu minha pressão. - Tem família?

- Moro com meus pais.

- Tem telefone?

- Tenho. É... - Dei o número do meu telefone e ela saiu.

Fiquei deitado, olhando todas aquelas pessoas que estavam internadas naquele hospital e senti vergonha de mim mesmo. Tive vontade de estar morto.

Após algum tempo, minha mãe entra muito nervosa.

- Jeremias! O que aconteceu?! O que fizeram com teu rosto?!

- Foi um assalto, mãe... Reagi e fiquei assim.

- Isso é um horror! Onde é que a gente vai parar, meu Deus!

Após algumas horas me liberaram e pude ir embora.

Um táxi esperava na porta do hospital. Ao entrarmos olhei para minha mãe e senti pena. Ela não merecia carregar um fardo como eu. Se não conseguia fazer algo por mim, deveria, pelo menos, fazer por ela.

Ao chegarmos ao apartamento, fui direto me olhar no espelho. Levei um susto com que vi. Meu rosto estava todo cheio de hematomas. Meu nariz e meus olhos estavam inchados, Um pedaço de meu dente havia sido quebrado.

Acho que naquele momento, eu percebi tudo o que Jade estava fazendo comigo. Eu era um ser decadente e sem caráter. Eu era um resto de ser humano.

Sentei no chão do banheiro e chorei durante muito tempo. Minha mãe tentou de todas as formas fazer com que me acalmasse. Para ela eu estava traumatizado com o assalto, mas eu sabia por que chorava...

Entrei em profunda depressão. Minha mãe chamou um médico que me receitou um antidepressivo.

Acho que aquele incidente fez com que enxergasse a minha verdadeira situação e tomasse as rédeas da minha vida.

Precisava reverter aquela autodestruição em uma energia positiva.

A mesma força que fazia com que não me matasse de vez, poderia me ajudar a me reerguer, sozinho, sem esperar ajuda de terceiros.

Percebi que eu tinha muita energia, só que ela estava direcionada para meu lado Jade.

Precisava matar Jade! Precisava ressuscitar Jeremias!


NOTA DO AUTOR: Não percam! Na próxima semana, o último capítulo! Algumas surpresas estão reservadas!

Uma boa semana para todos!

2 comentários:

Furlan disse...

É incrível quando percebemos que dentro de nós vivem personalidades antípodas...
Fernando Pessoa harmonizou-as, na poesia, e criou seus heterônimos; na vida real, contudo, acabou se matando, de tanto beber.
O que me indigna é que, quando nascemos, as 'leis sociais' já estão prontas: a gente tem que ser OU isto OU aquilo. E então vamos crescendo na base do Ctrl C = Ctrl V.
O direito de ser diferente dos demais parece não haver, na Constituição da Vida. O direito de simplesmente sermos nós... putz, que falta isso faz!

Beijos

Rodrigo M. Freire disse...

Bom, anotei por volta do nove que havia parado ali para voltar, mas acabei lendo tudo nesta madrugada numa só talagada. Bom, agora já é manhã. Dizer mais é tolice. Abraço.