domingo, 29 de julho de 2007

2º Capítulo - Parte IV

Eu senti nojo daquele lugar, daquela prostituta, daquele velho, de tudo. Disparei a correr. Cheguei até a estrada e corri na direção contrária à boate. O que mais queria era estar no meu quarto, protegido. Sr. Donato, bêbado, deve ter voltado para boate. Em pouco tempo passou um ônibus e quase me joguei na frente dele para que parasse. Em poucas horas estava em casa.

- Jeremias! Você já voltou?! Não tava bom o passeio?! - Minha mãe perguntou e meu pai ficou atento.

- Sr. Donato não se sentiu bem, por isso a gente teve que voltar mais cedo. - Sabia que se contasse a verdade, não acreditariam em mim.

- Vocês foram aonde? - Meu pai perguntou.

- Fomos até uma boate.

- E aí? Aconteceu o que?

- Escutamos música.

- Só.

- Só...
- Percebi a decepção de meu pai e, também, que ele estava envolvido naquela trama.


Na semana seguinte, quando pensei que este episódio tinha terminado, recebo um telefonema.

- Alô! Jeremias?

- Sou eu.

- Aqui é o Donato. Tudo bem?

- Tudo...
- Não entedia o que aquele velho ainda queria comigo.

- Preciso conversar contigo. É a respeito do seu pai. - Fiquei assustado. Será que ele teria sido capaz de ter contado o que ocorreu para o meu pai?

- Sobre o que?

- Pessoalmente eu te falo. Vamos sair esse final de semana?
- hesitei por alguns instantes, mas acabei cedendo. Queria saber se tinha algo a ver com o que aconteceu.

- Tudo bem.


No sábado seguinte, Sr. Donato apareceu. Meus pais, como sempre, satisfeitos por eu estar sendo "bem encaminhado" por uma pessoa mais velha. Quando chegamos à rua entrei no assunto.

- O que que o senhor ainda quer comigo, Sr. Donato?

- Eu preciso conversar sobre o teu pai.

- Pode falar...
- Dezenas de hipóteses passaram pela minha mente em segundos.

- O caso é o seguinte, Jeremias. Seu pai, sabendo dos seus "problema", veio me pedir se eu não poderia te convencer a sair com uma mulher. Ele acha que quando você comer uma, vai acabar descobrindo o quanto é bom uma xota. Eu também acho isso.

- É, mais não foi bem isso que o senhor quis me mostrar naquele sábado...

- Esquece aquilo! Eu tava bêbado. Mas agora eu tou disposto a te ajudar. Pensa bem, Jeremias. Se você pelo menos sair com a menina, seu pai já vai ficar mais tranqüilo.
- Nesse ponto tinha razão. Eu poderia melhorar a minha situação em casa.

- O senhor me dá um tempo pra eu pensar?

- Até sábado que vem.

- Tá combinado.


Andamos pela rua e acabamos num bar, onde, mais uma vez, Sr. Donato se embriagou. Essa noite não tive problemas com ele.

Durante todo o domingo pensei sobre o assunto e cheguei à conclusão de que me ajudaria muito sair com a tal garota. Mas havia um problema. Como consumar o ato sexual?... Eu não conseguiria... E ela acabaria contando para o Sr. Donato que contaria para o meu pai. Se eu tivesse que armar uma farsa tinha que ser bem feita.


Fiquei a semana toda sem me masturbar, coisa difícil na época. Quando chegou o sábado eu pensava em sexo vinte e quatro horas por dia. Não agüentava de tanta excitação. Mesmo assim, não me imaginava saindo com uma mulher.


Sr. Donato me levou de volta a boate onde Tininha trabalhava.

- Tininha, trouxe o menino de volta! - Falou, assim que chegamos.

- Que bom, Jeremias! Hoje você vai conhecer meu quarto, não é?!

- É... Vou.

- Pega lá uma bebida pra gente, Tininha.
- Sr. Donato pediu. Eu sentia-me péssimo, mas tinha que demonstrar que estava satisfeito.

- Aqui tá a sua, a minha e a do Jeremias. - Ofereceu-me aquela bebida vermelha.

- Não. Eu não vou querer, obrigado. - Falei.

- Não tem problema. Deixa aqui que eu bebo. - Sr. Donato pegou o copo.

- Vamos até lá, Jeremias? - Tininha perguntou.

- Vamos... - Sentia-me como se fosse para a forca.

Ao chegarmos ao seu quarto, Tininha tirou o sapato alto que usava.

- Senta aí, Jeremias. - Apontou-me a cama. Assim que sentei percebi umas revistas "pornô". O rapaz da capa logo me chamou a atenção.

- Posso ver?

- Claro.
- Enquanto eu me excitava com os homens nus da revista, Tininha tirou toda a sua roupa.

- Que tal? - Perguntou-me e eu percebi que estava nua.

- Você é bonita. - Realmente Tininha era uma mulher bonita. Aos dezessete anos, ela possuía lindos cabelos negros e ondulados na altura do ombro, rosto de traços finos e um corpo perfeito. Por uns instantes tive inveja daquelas formas tão bem esculpidas pela natureza. Atração? Nenhuma...

- Por que você não tira a sua roupa, também? - Aproximou-se de mim.

- Tá legal... - Tirei minhas roupas e ela apagou a luz e acendeu um abajur com luz vermelha.

Passou a mão pelo meu ombro. Retribui o seu gesto acariciando os seus seios. A sensação era estranha. Seu corpo era macio e liso, tão diferente do corpo de Cláudio, cujos músculos rígidos tanto me excitavam. Tentou me beijar e desvencilhei-me abraçando-a.

A excitação acumulada da semana, aliada as imagens mentais dos homens da revista, fez com que me excitasse. Transamos... Foi insignificante como uma masturbação...

Ao voltarmos para a boate, dei continuidade a farsa.

- Sr. Donato foi uma barato! - Ele parecia bêbado.

- Eu não te disse garoto! Nada é melhor do que uma mulher!

- Foi muito bom. Realmente eu tava enganado. Eu gosto mesmo é de mulher!

- Quem vai gostar disso é teu pai. Ele tava tão preocupado contigo.

- É, mais agora ele não tem mais com que se preocupar.


A peça foi representada e meu pai acreditou. A partir desse dia passei a vigiar meus gestos e os tornei o mais masculino possível. Meu pai deixou de me perseguir. Para ter um pouco de paz dentro de casa, tive que sacrificar a minha verdadeira personalidade. Inventei um personagem masculino e passei a vivê-lo... Na minha mente adolescente supus ter resolvido a problemática proveniente da homossexualidade... Doce ilusão...

Um comentário:

Furlan disse...

Pois é, Dama...
Eu já havia lido este livro. O que não consigo dizer com certeza é 'onde foi?'
Você já havia disponibilizado, no passado, num antigo blog?
À medida que vou lendo os capítulos, vou lembrando a história!

Beijos