domingo, 23 de dezembro de 2007

11º Capítulo

NOTA DO AUTOR: Por ser um capítulo polêmico, resolvi publicá-lo na íntegra. Acho que alguns leitores mudarão de opinião em relação a Jeremias. Uns poderão gostar, outros talvez passem a detestá-lo. Leiam e tirem suas conclusões.


Quase dois meses de namoro. Estava chegando o Carnaval. Maurício detestava, mas eu adorava. Foi o primeiro pequeno desentendimento que tivemos.

- Você vai viajar no Carnaval? - Perguntei a ele, sabendo que a resposta criaria uma polêmica.

- Não sei... Acho que sim... Sempre vou pra Minas e fico lá até acabar o Carnaval.

- Eu não vou me enfurnar numa fazenda! Vou ficar aqui e brincar, como sempre fiz.

- Eu ainda não decidi o que eu vou fazer. - Maurício sempre tentava não me aborrecer.

Ele havia passado no meu curso para me ver e resolvemos dar uma volta no centro da cidade antes de eu ir para o trabalho, pois ele não teria que dar aulas à tarde.

- Jê. Eu queria te apresentar a uma amiga. Ela é secretária de um curso que de vez em quando dou aula. É aqui pertinho. Vamos dá uma passada lá?

- Amiga é?!... Sei!... - Brinquei.

- Deixa de ser bobo! Se eu tivesse que te trair seria com outro.

- Não sei, não... É melhor você contar outra. - Continuei brincando, mas realmente não acreditava.

- Você vai gostar dela. Ela é muito doidinha. Sabia que ela tá em duvida se fica com um militar de vinte e um anos ou uma mulher de quarenta?

- Que desperdício! Não pensava duas vezes. Ficava com o gatinho.

- Ah, é!

- To brincando. Mas essa história é meio maluca, hein?

- É ali naquele prédio. Vamos lá?

- Vamos.

Subimos alguns lances de escada e logo avistei uma moça de óculos e cabelos grandes e encaracolados.

- Oi, Leda! - Maurício a cumprimentou.

- Oi, Maurício! É ele? - Perguntou, olhando pra mim.

- É. Jeremias, essa é Leda.

- Prazer! - Apertei a mão dela, que logo fez uma observação.

- Bonitinho! - Senti-me como uma mercadoria na vitrine.

- Ele deve te encher o saco falando de mim. Não é? - Perguntei a ela, brincando.

- Não. Ele só comentou sobre vocês... Fica tranqüilo. Meus relacionamentos também são diferentes. - Conversamos um pouco e logo reapareceu o papo do carnaval.

- O que vocês vão fazer no Carnaval? - Leda perguntou.

- Jê quer brincar. Eu quero ir pra Minas. - Olhou pra mim.

- Nem adianta me olhar! Eu não vou pra fazenda nenhuma.

- Não to falando nada!

- Eu tenho uma idéia! - Leda falou. - Por quê vocês não ficam lá no meu apartamento? - Ela morava em Copacabana.

- Você vai viajar? - Maurício perguntou.

- Eu ainda não decidi se vou pra casa da Teca ou se viajo com Décio pra Angra. Mas de qualquer modo não vou ficar em casa. - Ela continuava dividida entre as duas paixões.

- O que você acha? - Maurício me perguntou.

- Por mim tudo bem! Eu vou ficar perto do Carnaval. O problema é contigo.

- Posso te dar a resposta amanhã? - Perguntou à Leda.

- Pode.

- Maurício, tenho que ir. Tá na hora de ir pro trabalho.

- Tá legal.

- Foi um prazer te conhecer Leda. Vou ficar torcendo pra Maurício aceitar seu convite.

- Também, adorei te conhecer.

Descemos e andamos um pouco, calados. Resolvi quebrar o silêncio.

- O que você achou da proposta da Leda?

- Interessante.

- Você vai aceitar? - Tinha medo que dissesse não.

- Acho que sim... Você acha que eu vou te deixar aqui, sozinho, pra você sair com outro?! - Riu.

- Ah! Eu sabia que você não ia me abandonar aqui! - Pulei no pescoço dele.

- Olha as pessoas, Jê!!! - Eu sempre perdia a noção da nossa situação.

- Vamos voltar lá e confirmar com ela.

- Não. Depois eu falo com ela.

Maurício sempre acabava fazendo o que eu queria. Em qualquer situação, acostumei-me a ter prioridade. Às vezes, perguntava a ele se aquilo não o incomodava e me respondia que se sentia bem em me ver feliz. Era muito boa aquela sensação de ser importante para alguém. Aquilo fazia com que me sentisse forte.

Era sábado de Carnaval. Eu estava ansioso, com tudo arrumado para irmos para o apartamento de Leda. Combinei com Maurício de ele passar no meu apartamento para irmos juntos.

A campainha toca.

- Oi, amor! - Agarrei-o e dei um longo beijo. Estava feliz por podermos passar quatro dias juntos em um lugar diferente. Um território neutro.

- Vamos ter que ter cuidado pra não encontrar nenhum conhecido por aí. Falei pra minha mãe que ia, sozinho, pra Minas.

- Tudo bem. Aqui não é tão perto assim da tua casa.

- Sei lá... Vai que eu encontro com uma daquelas vizinhas... Nós dois de malas... O que iam pensar lá em casa?

- Que você tá indo viajar com um amigo seu. Que crime tem nisso?

- Prefiro não arriscar.

- Vamos logo! Eu to doido pra chegar lá!

- Jê! Comporte-se nesse carnaval! Olha que eu to aqui, hein!

- Ai! Eu to morrendo de medo! Deixa de ser bobo e vamos logo!

Chegamos ao apartamento da Leda. Ficava na Figueiredo Magalhães. Era jeitoso, porém pequeno e desarrumado. Parecia que um furacão tinha passado por ali.

- Bem que você disse que ela era doidinha! Isso aqui tá uma loucura!

- Não tem problema... a gente arruma.

- Vamos começar agora!

Levamos quase três horas, mas deixamos tudo arrumado.

- Agora nosso ninho de amor tá pronto! - Maurício brincou.

- Que tal brindarmos nossa arrumação com uma taça de vinho? - Eu tinha voltado a beber nos finais de semana. Não porque tivesse querendo fugir através de Jade. Era só uma forma de relaxar. Passei de cachaça e vodka para vinho.

- Concordo plenamente. - Antes, Maurício bebia cerveja esporadicamente. Depois que me conheceu, passou a beber qualquer bebida com bastante freqüência. Só não exagerava.

- Trouxe uma garrafa aqui na mochila. Vamos botar pra refrescar um pouco.

- Me dá que eu ponho.

Uma hora depois havíamos bebido toda a garrafa de vinho.

- Será que Leda não tem bebida aqui? - Perguntei.

- Talvez na cozinha. Pera aí que eu vou lá ver. - Após alguns minutos ele volta. Eu dançava ao som de uma música alta, já sobre os efeitos do álcool.

- Olha aqui, Jê! - Mostrou-me uma garrafa de vodka.

- Oba! Vamos fazer caipirinha!

Começamos a beber ao meio-dia, sem ter almoçado. Às cinco da tarde, nós dançávamos totalmente embriagados.

O álcool tinha voltado a fazer parte da minha vida, mas alguma coisa havia mudado dentro de mim. Quando estava perto de Maurício, não distinguia Jeremias de Jade. Acho que o amor de Maurício, o jeito como ele me valorizava fez com que eu - Jeremias - me sentisse mais seguro. Jade havia enfraquecido...

- Amor! Vamos dá um giro na rua? To cansado de ficar preso aqui. - Falei pendurado no pescoço de Maurício.

- Vamos. Mas eu quero me arrumar.

- Eu te arrumo. Trouxe purpurina e outras coisitas. - Fomos até o quarto.

- O que você acha dessa camisa com essa bermuda. - Mostrou-me duas peças de roupa estampadas com flores coloridas.

- Você vai vestir isso? Vai parecer um turista.

- Eu te falei que eu não sabia brincar carnaval. - Falou aborrecido

- Não esquenta, amor! Pode colocar a bermuda e a camisa que eu dou um jeitinho no resto. - Tentei não aborrecê-lo para que ele não mudasse de idéia.

Coloquei um mini short, uma camiseta, bastante purpurina e batom. Em Maurício coloquei bastante purpurina e dei um jeito na sua camisa para que não parecesse um turista.

Olhei para Maurício e percebi o quanto ele tinha mudado nesse tempo em que estávamos juntos. No início ele vestia trajes sociais em tons neutros, usava óculos de aro preto e grosso e um cabelo cortado em barbeiro, do tipo que faz costeleta. Enfim, uma aparência fechada, austera. Depois que passou a conviver comigo acho que um pouco da minha "frescura" passou para ele. Não que tenha ficado efeminado, nesse ponto não levava o menor jeito. Mas a aparência ficou mais alegre, despojada. Deixou os cabelos negros e levemente ondulados crescerem... Seu cabelo era muito bonito. Colocou lentes de contato e, a não ser que fosse dar aulas, passou a usar roupas joviais e coloridas.

As mudanças interiores aconteciam de maneira tão rápida como as exteriores. Às vezes, a sua capacidade de se adaptar às situações me assustava. Passou a beber e fumar, tanto cigarros como cachimbo. A não ser para sua família, assumiu seu homossexualismo, inclusive no trabalho. Antes caseiro e adepto da leitura, passou a gostar de sair e ficar a noite toda andado por bares e boates. Ao contrário de mim, adorava o meio gay e se sentia bem nos guetos. Ele criou um novo Maurício que tinha uma sede incontrolável de emoções.

- Você tá tão bonitinho, minha bichinha! - Observou.

- Você também, meu turistinha!

- Se você começar, eu não saio mais! - Ficou aborrecido.

- Não, não! Brincadeirinha! Vamos logo que eu to doido pra sambar.

Fomos para a Avenida Rio Branco, lugar que costumava brincar.

O som das baterias e a movimentação do pessoal, pareceu assustar Maurício, que por algumas horas ficou com a cara fechada. Eu apostava na sua imensa capacidade de adaptação. Eu sambava e pulava tanto, que ensopei toda minha roupa de suor. Ele ficava me olhando, e fumando cachimbo.

De repente avistei Iago. Ele era uma figura simpática e carismática no meio gay. Bem eclético, conseguia se relacionar com todo tipo de gente, inclusive comigo

- Iago! - Chamei-o. Ele estava vestido de mulher com uma maquiagem pesada e uma longa peruca preta. Mesmo assim eu o reconheci.

- Oi, bicha! Tá sozinha! - Cumprimentou-me visivelmente alcoolizado.

- Deixa eu ver! Você tá maravilhosa, hein!

- Gostou!

- Gostei. Vem cá que eu vou te apresentar a meu caso. - Eu prefiro mil vezes a palavra namorado. Eram esses pequenos detalhes que me afastavam dos outros homossexuais.

- Maurício esse aqui é Iago. - Falei como Jeremias e logo depois tive que me revestir de Jade. - Ela não tá super bem montada?! - A expressão de Maurício ficou mais alegre.

- Tá super bacana. - Apesar de entender as gírias, ele ainda não as falava tão fluentemente.

- Vocês não vão ficar aqui, né! Isso tá uó! Vamos lá pro Buraco. - Disse Iago.

- Lá tá aberto?! - Perguntei.

- Claro bicha!

- Quer conhecer? - Perguntei olhando para Maurício.

- Vamos lá! - A expressão dele mudou totalmente. Adorava conhecer lugares diferentes, principalmente se fossem freqüentados por homossexuais.

Fomos acompanhando um bloco que ia em direção da Cinelândia. Eu e Iago dávamos nosso show particular, alheios aos espectadores, que se divertiam com as nossas brincadeiras. Maurício, meio sem graça, caminhava à distância.

Acabamos chegando no Buraco.

O buraco era uma boate que ficava no subsolo de um restaurante na Cinelândia. Não gostava muito dela, pois me lembrava Paulo. Era o lugar preferido de Jade e Paulo. Mas assim que entrei gostei do visual. Estava toda decorada com serpentinas e enfeites de carnaval. Circulavam alguns garçons fantasiados. Pude perceber, também, que as pessoas que lá estavam, não eram as que costumavam freqüentar. Tinha desde travestis com seios a mostra até lindos "gatos" sem camisa.

Olhei para Maurício e percebi que seus olhos brilhavam de satisfação. Adorava aquele tipo de ambiente. Ao contrário de mim, que, a não ser pelo lindos rapazes, nada ali me encantava muito...

As marchas de carnaval e o samba tocavam sem parar. Eu e Iago fomos para o meio do salão. Maurício sentado em uma mesa, não perdia a expressão de êxtase, olhando as "bichas" que se exibiam.

Eu sambava, quando de repente, percebi que um cara me olhava. Olhei para Maurício e ele nem percebia a minha presença. Meu lado Jade não havia desaparecido, nem a promiscuidade característica dele. O rapaz estava encostado no balcão do bar. Imediatamente resolvi tomar uma cerveja. Ao me aproximar ele deu um sorriso, que logo correspondi.

- Oi? - Disse, quando chequei mais perto.

- Oi! Sozinho?

- To.

- Quer tomar uma cerveja?

- Vamos nessa!

Ele era lindo. Tinha a barba cerrada. Cabelos lisos, negros e um corpo maravilhoso, encoberto só com uma sunga de banho.

O álcool, meu lado Jade e a distância de Maurício fez a fórmula exata para que eu logo encontrasse uma maneira de beijá-lo, sem nem perguntar o seu nome. Estávamos no meio de um longo beijo, quando Maurício aparece e bate no meu braço.

- Jeremias! Que isso?! - Sua expressão era de espanto.

- Olha! Esse aqui é Maurício, meu caso. Esse é... Qual seu nome mesmo? - Apresentei um ao outro, naturalmente, como se nada estivesse acontecendo. O tal rapaz ficou tão sem graça que mal pôde disfarçar.

- Oh... você me desculpa... eu pensei que ele tivesse sozinho. - Maurício ficou imóvel olhando para mim.

- Dá licença, que eu preciso conversar com ele! - Disse para o rapaz, afastando-me com Maurício que, até então, não tinha dito nada.

- Maurício, eu te amo! Aquilo ali foi só uma brincadeira. Acho que nós dois somos pessoas suficientemente abertas para podermos ficar com outras pessoas, sem que isso afete o nosso compromisso e o nosso sentimento. - Maurício permanecia calado. - Se você quiser pode ficar com outra pessoa hoje que eu não vou ligar. Desde que você não se ligue sentimentalmente a ela. O que você acha?

- Não sei, Jeremias... Preciso ir embora... Você vai ficar?

- Não... vou também. - A noite tinha terminado.

Faltava atração física por Maurício. Não era o fato de ele não ser bonito. Nem que o sexo entre a gente não fosse bom... É difícil explicar... talvez nem tenha explicação... Mas não era uma atração como a que Fernando exercia sobre mim. No entanto, eu amava Maurício como jamais amei outro homem.

Acho que naquele momento em que ele me pegou beijando o outro cara, procurei uma forma de preencher essa lacuna no nosso relacionamento, através da proposta. Sabia que era um jogo perigoso. Na ocasião parecia uma solução boa e fácil, mas a longo prazo foi desastrosa.

Fomos calados até o apartamento de Leda. Tomei um banho longo, pois foi difícil tirar toda aquela purpurina. Quando entrei na sala ele fumava um cachimbo e assistia televisão. Levantou-se, calado e foi tomar banho. Eu continuava apostando na sua capacidade de adaptação.

Meia hora depois estava de volta.

- Precisamos conversar, Jeremias. - Quando me chamava de Jeremias era porque nada estava bem.

- É... Precisamos.

- Não gostei do que você fez... Achei uma falta respeito... e de amor também...

- Eu sei, amor, que você tem todo o direito de estar aborrecido. Mas pensa bem em tudo o que te falei, em tudo que te propus.

- Eu prefiro nem falar nisso agora, mas saiba que eu to muito chateado com você. Hoje eu vou dormir aqui na sala. Você pode dormir no quarto. - Acendeu o cachimbo, foi até o quarto e trouxe um travesseiro e uma colcha, sentou-se na poltrona e ficou olhando para a televisão.

Naquela noite senti-me péssimo. Fui para o quarto e chorei muito. Percebi o quanto Maurício era importante para mim. Depois de ficar quase o resto da noite acordado, decidi que deveria voltar atrás e retirar a proposta que tinha feito. Era uma tolice!

O dia amanheceu e eu adormeci. Acordei por volta de meio dia, assustado. Levantei e estranhei o silêncio. Por um momento pensei que Maurício teria me deixado. Corri até a sala. Lá estava ele sentado tomando café e lendo um livro.

- Faz tempo que você acordou? - Perguntei.

- Umas duas horas.

- Por quê você não me acordou?

- Pra que? - Estava frio, como nunca tinha visto.

- Maurício... Não faz assim comigo... Eu te amo... Olha... Eu retiro tudo que falei e te peço perdão. - Ajoelhei perto da poltrona e comecei a chorar. Ao me ver tão frágil ele afagou minha cabeça.

- Não chora. Não vale a pena.

- Você me perdoa? - Olhei dentro dos seus olhos.

- Perdôo. - Falou baixinho e me abraçou.

Começamos a nos beijar loucamente. O desejo dominou a situação e arrancamos a nossa roupa. Eu beijava todo o seu corpo e ele falava alto que me amava. Foi uma relação inesquecível. Acho que toda a sua raiva pelo que eu tinha feito se transformou em puro tesão.

Ficamos um tempo abraçados em silêncio. Apesar de não me sentir tão atraído por ele, o nosso amor fazia com que o sexo fosse ótimo.

Almoçamos e dormimos um pouco. Acordei com Maurício me chamando.

- Jê! São seis horas. Acorda. - Abracei-o

- É tão bom... você aqui juntinho de mim.

- Vai querer sair hoje?

- Por mim eu queria. E você?

- Eu queria voltar no Buraco... Ontem tava legal lá. Apesar de tudo...

- Esquece isso. Ainda tem vodka?

- Meia garrafa.

- Vamos fazer caipirinha?

- É pra já.

Dez horas da noite estávamos saindo do apartamento, bêbados e cheios de purpurina. Maurício estava super animado com a idéia de voltar ao Buraco. Não pelo carnaval, mas pelo resto.

Fomos direto para lá. Ao entrarmos, encontramos Iago vestido com uma camiseta e uma bermuda, bem masculino. Era típico dele esse jogo entre o masculino e o feminino. Até em dias fora do Carnaval, costumava encontrá-lo nas boates, uma vez vestido de homem, outra, de mulher.

- Oi, Iago! Não veio montada? - Perguntei.

- Não, to cansado. Hoje vim de bofe, mesmo. Hii! Olha lá o Edu. - Fez sinal para um rapaz que estava do outro lado do salão.

- Ele é bonitinho. - Maurício cochichou no meu ouvido.

- Quem? o Edu?

- Não. Iago.

- Eu prefiro o Edu. Olha que gracinha! - Percebi que Maurício, sem dizer, tinha aceitado minha proposta. A sua capacidade de adaptação estava funcionando. Ali começava um jogo perigoso.

- Edu! Quanto tempo! Fica com a gente. Esse aqui é Jade e esse é... Como é que é mesmo o nome dele? - Perguntou-me.

- Maurício. - Respondi.

- Que Jade é esse?! - Maurício perguntou-me.

- Fica na tua! É a minha outra personalidade que eu havia te falado. - Murmurei.

- Jade e Maurício, esse é o Edu. - Olhei para ele e dei um leve sorriso para Maurício, que disfarçou.

- Tudo bem? - Apertou minha mão e ignorou Maurício.

- Prazer Edu. Vamos fazer um trenzinho?! - Perguntei e todos concordaram. Coloquei Edu na minha frente e Iago atrás de mim, deixando-o livre para Maurício. Enquanto caminhávamos pelo salão comecei a alisar as costa de Edu, que logo retribuiu puxando a minha mão para sua cintura. Nem queria ver o que Maurício fazia com Iago, mas com certeza faziam alguma coisa.

Depois de algum tempo dei um jeito de soltar a mão de Iago das minhas costas e me perdi pelo salão com Edu. Não demorou muito para que eu visse Maurício e Iago se beijando. Não perdi tempo, agarrei Edu.

Mais tarde a proposta.

- Que tal a gente fazer uma festinha nós quatro? - Iago perguntou

- Fala com Edu que eu falo com Maurício.

- Maurício que tal nós quatro sairmos juntos?

- Sei lá... Será que eles aceitam? - Sentia que aquilo fascinava Maurício.

- Você topa?

- Topo.

- Mas nada de ir pro apartamento da Leda. Vamos pra um hotel aqui no centro mesmo.

- Claro. - Edu e Iago se aproximaram

- Ele aceitou. - Disse Iago.

- Só tem um problema. Eu to sem dinheiro. - Disse, Edu. Novidade...

- A gente tem. - Falei.

Fomos para um hotel barato, daqueles que só aceitam homens. Alugamos dois quartos, um para mim e Edu e outro para Iago e Maurício tomando cuidado para serem quartos vizinhos. Na verdade ficaríamos todos em um quarto só. Foi uma verdadeira festa sexual. Eu transava com Edu, que transava com Iago, que transava com Maurício.

Nós quatro ficamos juntos o resto do Carnaval. Eu e Maurício voltávamos sozinhos para o apartamento de Leda, mas marcávamos uma hora para nos reencontrarmos. E todos os dias íamos para aquele hotel e transávamos, os quatro. Tudo "regado" com muita bebida.

Talvez o excesso de álcool combinado com a vida promíscua que eu estava acostumado a levar,  me fez fazer tal proposta para Maurício. Na época não percebia o quanto isso poderia prejudicar nosso relacionamento,  ou talvez fosse meu lado  autodestrutivo numa total atitude de auto sabotagem. A verdade é que tudo aconteceu rápído, Maurício criou muito pouca resistência, depois gostou da idéia e a coisa foi acontecendo...

A partir desse carnaval minha relação com Maurício sempre tinha um terceiro ou quarto homem. O combinado entre a gente é que sempre faríamos isso juntos, nunca separado do outro... Um jogo perigoso que, obviamente, teve suas conseqüências...

Um comentário:

Pandora disse...

Minha mãe diria, quem nunca comeu melado quando come se lambuza! Mas acho que quando a gente é jovem não sabe onde certas coisas vão dar e vai vivendo... Por isso que eu vivo me irritando com os pais e mães dos meninos e meninas gays que negligenciam a educação deles e não conversam muito com eles, as vezes a experiencia de uma pessoa mais velha faz toda a diferença na vida da pessoa porque ela consegue mostrar onde certas atitudes que parecem ótimas podem dar e nos ajudam a escolher o que fazer sem se levar só pelo desejo e pelo prazer imediato.