domingo, 26 de agosto de 2007

4º Capítulo - Parte I

Quando estava terminando o segundo grau, comecei a pensar em escolher uma carreira para cursar na faculdade. A minha primeira opção foi o curso de Psicologia, no entanto meu pai teve outra idéia.

- Que carreira você vai escolher na faculdade, Jeremias?

- Bem... Eu tava pensando em... Psicologia.
- Sempre ficava receoso diante de uma situação que precisasse expor minha opinião à minha família.

- O que que você vai fazer com Psicologia?! Você tem que procurar uma carreira que possa te ajudar no mercado de trabalho!

- É... Qual?

- Administração, por exemplo.

- Será?

- Claro. Com administração você pode chegar ao cargo de chefia em qualquer empresa. Com psicologia você vai ter que abrir um consultório e depois vai ser um sacrifício para arranjar clientes. Você vai ter que enfrentar mil barreiras. Já com Administração basta você arranjar um emprego em uma empresa grande, que o seu futuro estará garantido. -
Administração não me atraía nem um pouco. Não conseguia me ver realizado, sentado atrás de uma mesa escolhendo os melhores métodos para administrar algo. Devia ser um saco!

- É verdade... Acho que o senhor tem razão.

Fiz a inscrição no vestibular de Administração para todas as universidades públicas, visto que não teríamos condições de pagar particulares.

Meu ânimo por Administração era tanto, que fui reprovado. Acho mesmo que inconscientemente, desejei a reprovação. Assim ficaria livre de ter que suportar aquele curso.

Aos dezenove anos, sem universidade para cursar, só me restou uma alternativa, procurar um emprego. Não foi uma escolha espontânea. Depois de tentar me transformar em um homem de verdade, essa foi a segunda obsessão de meu pai.

Passei a procurar emprego, mas como é do conhecimento de todos, uma pessoa que inicia no mercado de trabalho tem muita dificuldade. Sem experiência, a oportunidade custa a aparecer.

Costumava ver os classificados no domingo e na segunda-feira saía com a lista de empregos que achava ter chances e visitava a todos. Voltava à tarde sempre com as mesmas promessas:
"entraremos em contato com você.", "assim que surgir uma oportunidade ligaremos para você.", "no momento não temos uma vaga para você, mais seu curriculum será analisado".

De terça à sexta-feira, passei a dar aulas particulares de português em casa. Desde que entrei na puberdade meu rendimento no colégio caiu muito, no entanto, português sempre foi uma matéria que gostava de estudar. Não tinha grandes conhecimentos, mas conseguia dar aula para crianças que estavam no primário e, repassando a matéria, até para quem estava no ginásio.

Não era um modo rendoso de ganhar a vida, mas foi a forma que encontrei para que meu pai me deixasse em paz. Por pouco tempo...

- Jeremias, por quanto tempo você vai ficar dando essas aulinhas em casa?! Você precisa pensar no futuro! Se pelo menos você tivesse se empenhado, teria passado no vestibular!

- Eu tou estudando para o próximo ano.

- Quando?! Eu só te vejo dando essas aulinhas e, UMA VEZ POR SEMANA, sair pra procurar emprego!

- Eu tenho me esforçado, mas não tá fácil pra quem não tem experiência.

- Tá difícil, mas não é impossível! Trata de se esforçar mais um pouco que eu não vou ficar sustentando malandro a vida inteira! Não vou mesmo!

Senti-me encurralado novamente. As pessoas podem se perguntar: " - Por que Jeremias não ia embora de casa e dava uma banana pro pai?". Apesar de minha mãe não enfrentar meu pai em minha defesa, ela sempre foi muito apegada aos filhos. É claro que meu irmão era o preferido, em todos os sentidos. Era homem mesmo. Desinibido. Tinha namoradas. Quando completou vinte anos arranjou um estágio em uma empresa e logo conseguiu um bom cargo. O clima criado foi de que Roberto deu certo e Jeremias era uma "ovelha negra". Entretanto, mãe é sempre mãe. Mesmo que não me admirasse, dava carinho, apoio. Fazia tudo o que uma mãe faz por um filho, só não contestava nenhuma decisão de meu pai com relação a mim. Minha vida era vazia demais para perder minha mãe... Preferi enfrentar meu pai...

Reduzi os dias em que dava aulas particulares, de quatro para dois dias, quinta e sexta-feira. Tendo, assim, três dias para procurar empregos.

Recortava anúncios, visitava agências de empregos, distribuía curriculum, mas nada deu certo... Os meses passavam... Meu pai continuava a me sufocar... Não sabia mais o que fazer...

O tempo foi passando e com ele veio o novo vestibular. Empenhei-me, mas não passei. Meu pai ficou furioso.

Um comentário:

Ana Paula disse...

Aqui explica-se um dos teus talentos: a escrita.
E esse livro já deveria estar publicado! Beijo