Depois de uma meia hora, os cinco voltaram para a sala. Todos demonstravam raiva. Quando entraram toda a turma murmurou. Eu continuava sentado próximo a eles e assim que Geraldo sentou, tornou a me ameaçar.
- Aí viadinho! Vou te pegar lá fora. E trata de ir dando o fora da minha turma! Eu não estudo com Geni.
Eu nada respondi. Sentia que minhas forças estavam se esgotando. Sentia-me como que numa guerra em que você precisa lutar sempre para não sucumbir.
Antes de terminar a aula, os cinco levantaram-se e foram para fora da sala. Assim que tocou o sinal, pegaram suas carteiras e desceram. Sabia o que me esperava...
- Olha ela aí turma!!! - Gritou Geraldo, assim que saí no portão do colégio. Continuei andando e tentei ignorar sua observação. Ele não suportou minha atitude e correu colocando-se na minha frente. - Quando eu falar você para pra me ouvir!
- Sai da minha frente!!! - Empurrei-o e ele caiu. Outros dois agarraram-me. Muitos alunos pararam para olhar e nada fizeram. Geraldo levantou-se.
- Agora você vai ter o tratamento de Geni! Seu viado nojento! - Choveu na noite passada e devido a isso havia algumas poças de água na rua. Enquanto me seguravam os outros três jogavam lama em mim e cantavam a música "Geni".
Fiquei tão chocado com a atitude deles que não ofereci resistência. Depois que me viram absolutamente enlameado, abandonaram-me ali e saíram rindo. Estava estático. Não conseguia acreditar que aquilo estivesse acontecendo. Depois de alguns minutos, chorei. Uma menina, que nunca havia visto, aproximou-se.
- Eu moro aqui perto. Vamos lá em casa pra você se limpar. - Olhei para ela como se fosse uma tábua de salvação. Finalmente tinha aparecido alguém para me ajudar, para dizer algo positivo. A multidão se desfez.
- Não! Eu vou mostrar para Dna. Olga o que que fizeram comigo!!!
- Amanhã a gente fala com ela. Vamos... - Puxou-me pelo braço. Sentia-me tão frágil que deixei que aquela garota anônima tomasse as decisões.
Fui calado até a casa da menina. Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto. As pessoas que cruzavam conosco olhavam-me assustadas. A menina segurava meu braço, num gesto de apoio.
Chegamos a sua casa. Mesmo em estado de choque pude perceber o quanto era bonita sua moradia. Ela me colocou sentado na varanda. Entrou e falou alguma coisa com uma senhora, que parecia ser sua mãe. Após alguns minutos, voltou com uma camiseta e um short.
- Tira a tua roupa que minha mãe vai lavar e secar. Coloca isso aqui.
Deu-me as roupas e uma toalha para que eu lavasse a lama do meu corpo.
Após tomar banho, a garota me esperava na cozinha com um lanche pronto.
- Você me ajudou tanto e eu nem sei o seu nome.
- Rosângela. Come um pouco... - Sentei-me ao seu lado.
- O meu nome é Jeremias... Você não quer saber o que aconteceu?
- Se você quiser contar.
Contei tudo. Desde o ginásio com Téo até chegar a Geraldo. Foi ótimo ter com quem desabafar, depois de todos aqueles anos de sofrimento calado.
- Imagino como deve ser ruim a tua situação... O que que você pretende fazer em relação a esse Geraldo?
- Vou falar com Dna. Olga e pedir para me tirar daquela turma.
- Você tá em que série?
- Na terceira.
- Eu também. Por que você não pede pra ficar na minha turma?
- É... quem sabe?
Nesse momento sua mãe entra com o meu uniforme lavado e passado. Não sabia como retribuir àquelas pessoas tudo o que faziam por mim. Agradeci à mãe de Rosângela e fui embora sentindo-me mais leve. O que havia acontecido na porta do colégio já não me aborrecia tanto.
Naquele dia encontrei uma amiga. Era a única alma bondosa que parou para me dar atenção. Até então, só apareciam pessoas para me humilhar ou para sentir pena. Cheguei em casa como se nada houvesse acontecido. Com o passar do tempo aprendi a representar muito bem. Se minha família soubesse do ocorrido, talvez a perseguição por parte do meu pai voltasse. Preferi não arriscar...
No dia seguinte, Rosângela me esperou na porta do colégio para que procurássemos a secretária do diretor, juntos.
Dna. Olga ouviu tudo e prometeu resolver meu problema naquele dia mesmo.
Não fui para minha sala. Assisti à aula na turma de Rosângela, que tratava-me como um ser humano. Aliado ao carinho que sentia, havia uma grande admiração por ela. Era bonita, forte e desinibida. Via em Rosângela a mulher que gostaria de ser.
Na hora da saída Dna. Olga deixou um recado com o inspetor para que eu fosse até sua sala.
- Jeremias, levei seu problema até o diretor e ele aceitou te transferir para a turma que pediu. Os cinco rapazes vão ser suspensos por três dias e os pais deles serão chamados no colégio para tomarem conhecimento do ocorrido.
- Obrigado, Dna. Olga. Nem sei como agradecer!
Eu e Rosângela saímos juntos. Geraldo e os outros quatro garotos estavam reunidos há alguns metros do portão do colégio. Ao perceberem minha presença, pararam de conversar e olharam-me sem se aproximar. Passei perto com Rosângela e fingi não perceber a presença deles. Não se manifestaram...
As três semanas seguintes à minha transferência foram maravilhosas. A turma de Rosângela era calma. Havia encontrado uma amiga, um pouco de paz e felicidade. Mas seria por pouco, pouquíssimo tempo...
- Aí viadinho! Vou te pegar lá fora. E trata de ir dando o fora da minha turma! Eu não estudo com Geni.
Eu nada respondi. Sentia que minhas forças estavam se esgotando. Sentia-me como que numa guerra em que você precisa lutar sempre para não sucumbir.
Antes de terminar a aula, os cinco levantaram-se e foram para fora da sala. Assim que tocou o sinal, pegaram suas carteiras e desceram. Sabia o que me esperava...
- Olha ela aí turma!!! - Gritou Geraldo, assim que saí no portão do colégio. Continuei andando e tentei ignorar sua observação. Ele não suportou minha atitude e correu colocando-se na minha frente. - Quando eu falar você para pra me ouvir!
- Sai da minha frente!!! - Empurrei-o e ele caiu. Outros dois agarraram-me. Muitos alunos pararam para olhar e nada fizeram. Geraldo levantou-se.
- Agora você vai ter o tratamento de Geni! Seu viado nojento! - Choveu na noite passada e devido a isso havia algumas poças de água na rua. Enquanto me seguravam os outros três jogavam lama em mim e cantavam a música "Geni".
Fiquei tão chocado com a atitude deles que não ofereci resistência. Depois que me viram absolutamente enlameado, abandonaram-me ali e saíram rindo. Estava estático. Não conseguia acreditar que aquilo estivesse acontecendo. Depois de alguns minutos, chorei. Uma menina, que nunca havia visto, aproximou-se.
- Eu moro aqui perto. Vamos lá em casa pra você se limpar. - Olhei para ela como se fosse uma tábua de salvação. Finalmente tinha aparecido alguém para me ajudar, para dizer algo positivo. A multidão se desfez.
- Não! Eu vou mostrar para Dna. Olga o que que fizeram comigo!!!
- Amanhã a gente fala com ela. Vamos... - Puxou-me pelo braço. Sentia-me tão frágil que deixei que aquela garota anônima tomasse as decisões.
Fui calado até a casa da menina. Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto. As pessoas que cruzavam conosco olhavam-me assustadas. A menina segurava meu braço, num gesto de apoio.
Chegamos a sua casa. Mesmo em estado de choque pude perceber o quanto era bonita sua moradia. Ela me colocou sentado na varanda. Entrou e falou alguma coisa com uma senhora, que parecia ser sua mãe. Após alguns minutos, voltou com uma camiseta e um short.
- Tira a tua roupa que minha mãe vai lavar e secar. Coloca isso aqui.
Deu-me as roupas e uma toalha para que eu lavasse a lama do meu corpo.
Após tomar banho, a garota me esperava na cozinha com um lanche pronto.
- Você me ajudou tanto e eu nem sei o seu nome.
- Rosângela. Come um pouco... - Sentei-me ao seu lado.
- O meu nome é Jeremias... Você não quer saber o que aconteceu?
- Se você quiser contar.
Contei tudo. Desde o ginásio com Téo até chegar a Geraldo. Foi ótimo ter com quem desabafar, depois de todos aqueles anos de sofrimento calado.
- Imagino como deve ser ruim a tua situação... O que que você pretende fazer em relação a esse Geraldo?
- Vou falar com Dna. Olga e pedir para me tirar daquela turma.
- Você tá em que série?
- Na terceira.
- Eu também. Por que você não pede pra ficar na minha turma?
- É... quem sabe?
Nesse momento sua mãe entra com o meu uniforme lavado e passado. Não sabia como retribuir àquelas pessoas tudo o que faziam por mim. Agradeci à mãe de Rosângela e fui embora sentindo-me mais leve. O que havia acontecido na porta do colégio já não me aborrecia tanto.
Naquele dia encontrei uma amiga. Era a única alma bondosa que parou para me dar atenção. Até então, só apareciam pessoas para me humilhar ou para sentir pena. Cheguei em casa como se nada houvesse acontecido. Com o passar do tempo aprendi a representar muito bem. Se minha família soubesse do ocorrido, talvez a perseguição por parte do meu pai voltasse. Preferi não arriscar...
No dia seguinte, Rosângela me esperou na porta do colégio para que procurássemos a secretária do diretor, juntos.
Dna. Olga ouviu tudo e prometeu resolver meu problema naquele dia mesmo.
Não fui para minha sala. Assisti à aula na turma de Rosângela, que tratava-me como um ser humano. Aliado ao carinho que sentia, havia uma grande admiração por ela. Era bonita, forte e desinibida. Via em Rosângela a mulher que gostaria de ser.
Na hora da saída Dna. Olga deixou um recado com o inspetor para que eu fosse até sua sala.
- Jeremias, levei seu problema até o diretor e ele aceitou te transferir para a turma que pediu. Os cinco rapazes vão ser suspensos por três dias e os pais deles serão chamados no colégio para tomarem conhecimento do ocorrido.
- Obrigado, Dna. Olga. Nem sei como agradecer!
Eu e Rosângela saímos juntos. Geraldo e os outros quatro garotos estavam reunidos há alguns metros do portão do colégio. Ao perceberem minha presença, pararam de conversar e olharam-me sem se aproximar. Passei perto com Rosângela e fingi não perceber a presença deles. Não se manifestaram...
As três semanas seguintes à minha transferência foram maravilhosas. A turma de Rosângela era calma. Havia encontrado uma amiga, um pouco de paz e felicidade. Mas seria por pouco, pouquíssimo tempo...
Um comentário:
Tô lendo até agora... rs. Mto bom...
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